terça-feira, 31 de março de 2015

Sabor de infância

          Hoje, estava me dirigindo para ir à padaria comprar um pãozinho que gosto muito de uma determinada padaria e do nada me veio à boca o sabor do pão francês com manteiga esquentado na chapa.
         Lembro-me que era uma das coisas que minha mãe fazia quando éramos criança. Como eu adorava o chiado da manteiga na frigideira quente e o aroma do pão tostando.
         Provavelmente ela fazia isso porque o pão era dormido, quem sabe a sobra do lanche da tarde anterior. O fato é que aquilo incorporou à minha memória degustativa.
         Comprei o pão francês e resolvi recriar aquele momento tão especial. Tenho que confessar que nem de longe chegou perto ao que minha mãe fazia.   
         Comecei a procurar as causas e cheguei a algumas conclusões: 1) não esquentei a frigideira o suficiente; 2) não coloquei a quantidade de manteiga ideal; 3) o pão não era dormido; 4) o segredo estava na mão de minha mãe; 5) perdi para sempre o sabor do pão com manteiga na frigideira.
         Não é a primeira vez que isso acontece, ou seja, o fato de não conseguir resgatar o sabor do passado, mesmo diante dos mesmos ingredientes. Na verdade, falta um ingrediente que nunca recuperarei: o tempo.
         Por isso é que como tudo com moderação, pois sei que um dia tudo fará parte do passado e não terá livro ou receita que trará a pitada do tempo. Esse ingrediente só se usa em um momento: o que se guarda para o dia seguinte, deteriora-se, cabendo ao degustador usar novo tempero, com a certeza que deverá ser na medida certa, pois se sobrar ou faltar, só fazendo nova receita.
         Adoro ter memórias degustativas... às vezes chego muito próximo do passado e aí tenho a maior satisfação. Gosto do gosto do qual gostei.
        


quarta-feira, 25 de março de 2015

Gosto de infância



 Fazendo compras num hortifrutigranjeiro, deparei- me com uma fruta da minha infância: carambola. Olhei para bandeja e não acreditei que aquela fruta que caia no meu quintal e que nem dávamos tanta importância estava ali para ser vendida, tal o desprezo que dávamos a ela.
         Lembro-me que comíamos carambola, bebíamos seu suco e ainda deliciávamos com seu doce. Quantas vezes fizemos guerra da fruta e ao final juntávamos aquele monte de lixo e jogávamos fora.
         Pois bem, resolvi comprar as carambolas para ver se ainda lembrava o gosto delas e para voltar um pouco ao passado.
         Em casa, guardei as frutas e não dei a atenção para as carambolas. Mais tarde, resolvi fazer um suco e abri a bandeja da fruta da infância. Qual a surpresa ao ser envolvido por aquele aroma  maravilhoso que me remeteu imediatamente ao início da minha adolescência.
         O cheiro mágico da carambola me fez recordar as travessuras, as brincadeiras, as pessoas a quem tanto amei e que muito me amaram e de como foi boa a minha infância e minha adolescência.
         Mas a surpresa maior estava por vir, quando não resisti e mordi a fruta. Parece que todo o gosto de infância veio na minha boca: lembrei-me de frutas que nunca mais consumi como abil, amora, jambo, araçá, amêndoa, jamelão, cana caiana,  jaca manteiga e tantas outras que marcaram uma época de ouro e que lembro com muita saudade (confesso que muitas delas foram objeto de apropriação indevida, invadindo terrenos, pulando cerca, levando corrida de cachorro - coisas inocentes de criança sem maldade  que quer somente se divertir).
         Eu queria muito eternizar aquele momento mágico de redescoberta e resolvi fazer suco da fruta. Que delícia! Não tinha como não comprar mais carambolas para experimentar a geleia e reviver momentos tão doces, momentos tão presentes que ficaram num passado relativamente distante.
         A vida nos reserva muitas surpresas, mas a que foi reservada com uma simples degustação de uma fruta não tem preço, afinal não se comercializa gosto e sabores da infância.
Carlos Alberto

25 de março de 2015