Hoje, estava me dirigindo para ir à padaria comprar
um pãozinho que gosto muito de uma determinada padaria e do nada me veio à boca o sabor
do pão francês com manteiga esquentado na chapa.
Lembro-me que era uma das coisas que minha mãe fazia quando
éramos criança. Como eu adorava o chiado da manteiga na frigideira quente e o
aroma do pão tostando.
Provavelmente ela fazia isso porque o pão era dormido, quem
sabe a sobra do lanche da tarde anterior. O fato é que aquilo incorporou à
minha memória degustativa.
Comprei o pão francês e resolvi recriar aquele momento tão especial. Tenho que confessar que nem de longe chegou perto ao que
minha mãe fazia.
Comecei a procurar as causas e cheguei a algumas conclusões:
1) não esquentei a frigideira o suficiente; 2) não coloquei a quantidade de manteiga
ideal; 3) o pão não era dormido; 4) o segredo estava na mão de minha mãe; 5)
perdi para sempre o sabor do pão com manteiga na frigideira.
Não é a primeira vez que isso acontece, ou seja, o fato de
não conseguir resgatar o sabor do passado, mesmo diante dos mesmos ingredientes.
Na verdade, falta um ingrediente que nunca recuperarei: o tempo.
Por isso é que como tudo com moderação, pois sei que um dia
tudo fará parte do passado e não terá livro ou receita que trará a pitada do
tempo. Esse ingrediente só se usa em um momento: o que se guarda para o dia
seguinte, deteriora-se, cabendo ao degustador usar novo tempero, com a certeza
que deverá ser na medida certa, pois se sobrar ou faltar, só fazendo nova receita.
Adoro ter memórias degustativas... às vezes chego muito
próximo do passado e aí tenho a maior satisfação. Gosto do gosto do qual gostei.
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