O sabor mais marcante da minha infância não vem do que eu
comi, mas do que imaginei. Ele advém de uma figura de revista em quadrinhos,
quando os netos sempre pegavam a torta de maçã americana que a vovó Donalda (Walt
Disney) deixava esfriando no parapeito da janela.
Eu ficava imaginando o sabor daquela torta, em especial
quando os personagens falavam que era impossível comer apenas um pedaço. Confesso que até o
cheiro ilustrado eu sentia.
Anos se passaram e eu procurei essa torta por todos os lugares.
Encontrei muita coisa boa, mas nenhuma chegava próximo da memória olfativa que
ganhei pelas folhas dos gibis. Pode parecer loucura, mas eu sabia exatamente o
que queria e o que procurava.
Cheguei a experimentar tortas do Amor em Pedaços, Parmê, Tortarelli
e outras empresas do ramo, mas sem qualquer sucesso.
Desiludido, resolvi procurar uma receita que pudesse chegar
próximo ao meu sonho e eu mesmo executar. Achei duas propostas e resolvi pegar
a massa e a cobertura de uma e o recheio de outra. Minha esposa é radicalmente
contra isso, pois fico com duas ou três receitas abertas no computador e
(segundo ela) depois não sei qual estou fazendo.
Muito a contragosto, ela me ajudou a executar a receita. Ao
final, descobrimos a fórmula secreta e pudemos gritar EUREKA.
Confesso que essa história de querer o sabor da infância rendeu
boa DR (discutição da relação) e cheguei a ser chamado de louco, mas minha
persistência à procura do sabor perfeito teve êxito.
Tudo isso me confirmou uma verdade: se é possível sonhar, é
possível realizar!
Não sei se tenho uma nova receita, mas sei que o sabor, o
aroma e o visual são iguais (ou bem próximos) àquele registrado na minha
memória e que me fazia ficar com água na boca.
Consegue caro leitor sentir o sabor da minha torta? Então
venha experimentar e conheça o sabor da minha infância.
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